Domingo de Páscoa.
Volto à minha infância. Sempre foi uma das minhas férias preferidas. Pai, mãe, Luis e Sebastião, juntávamo-nos aos avós, tios, primos direitos, segundos e terceiros, e lá rumávamos a Portalegre por uns dias. Era certo e sabido que no dia mais Santo do ano (5a feira de Pascoa) "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam. Ah! E não me lembro de alguma vez chover (boas memórias, ou memória selectiva?). A verdade é que as oliveiras que rodeavam a nossa casa "milagrosamente" cruzavam as folhas nessa tarde.
Corria-se pela quinta toda durante o dia e comia-se bolo finto ao fim da tarde. Domingo, depois da sesta, íamos todos para o jardim onde estavam dezenas (arrisco dizer centenas) de chocolates. Ovos grandes, ovos minúsculos, amendoas de chocolate, coelhos da páscoa. Até um mapa com a localização dos ditos era feito no dia, não fossem ficar lá perdidos, e serem encontrados (e degustados) 365 dias depois por alguma criança.
Jantávamos todos em familia, na sala de jantar, e íamos aquecer para frente da lareira mais tarde. E assim se passava o nosso Domingo de Páscoa.
Já ouço o Matt e a Cat lá fora a preparar o pequeno almoço... estamos a ficar habituados a esta mordomia, e não vai ser fácil voltar aos cereais, ingeridos a velocidades alucinantes, para não chegarmos atrasados a lado nenhum . Não vou pensar nisso agora.
Vamos para o jardim e escondemos um coelho e dois ovos. O Duarte agarra num mini cesto, veste um sorriso de orelha a orelha, e parte em busca dos tesouros escondidos. Agora vema cheesy parte: não há nada que nos encha mais o coração, que ver os filhos felizes! (só talvez uma muito boa sessão de surf?!).
Tesouros encontrados e seguimos para a praia. Está um bocado de frio quando as nuvens passam, mas quando o sol sai... a água fica turquesa, completamente transparente, e as temperaturas sobem a pique. Calculo que seja resultado de estarmos tão perto do deserto. A Praia chama-se Meelup, e como não tem ondas, decidimos experimentar o tão em voga SUP (Stand Up Paddle). É bom para a postura, para os músculos e para a cabeça. Fiquei fã. Tento um bocado de yoga, sem grande sucesso. Agora é a vez do Pedro que leva o Duarte atrás. Sempre a falar (este miúdo é uma gralha). O Duarte claro!
A hora de almoço tem de ser em casa pois espera-nos uma noite mais comprida.
Todos dormem.
Todos menos eu.
Agora que acordaram vamos ver kangaroos, para depois seguir para Eagle Bay. Vamos ter com uma tia de uma amiga minha de infância, que muito simpática nos convidou para um jantar de páscoa lá em casa, com os filhos, marido, e uns amigos. Uma família Luso-Australiana.
Entro em casa e lembro-me logo das razões que me levam a gostar de arquitectura. Há uns anos que ando um bocadinho perdida/confundida com o que faço por fazer, gosto de fazer, adoro fazer, e sou apaixonada por fazer. Mas ao entrar nesta casa sinto-me inspirada. É um 'ocean heaven'. A casa é toda branca e cimento afagado. Os espaços são inteligentes e os pontos de luz originais. Os equipamentos criativos. No entanto a casa que poderia ser 'fria', está decorada e equipada com um gosto incrível, tornando-a a casa mais cozy onde já estive. Tons de praia em muitos detalhes, redes de pesca na parede, bússolas, controlos de barco antigos, estrelas do mar, búzios, modelos de barcos ... uma mesa cheia de gente gira, e um jantar de chorar por mais. Foi bom passar a Páscoa com Portugueses e Australianos à mesa, e ver como combinam tão bem.
A noite acabou tarde, mas os meus príncipes portaram-se lindamente. Um dormiu o tempo todo, o outro brincou aos legos.
Estamos na cama, e já estou triste das férias estarem a acabar...